A Igreja, o Convento e a Ponte de São Gonçalo, são o “ex libris” da cidade de Amarante, indissociáveis da figura que lhes dá o nome. A miríade de lendas e crenças, que gravitam em torno deste local, esbatem a realidade numa encruzilhada de tal nebulosidade, que nos atira para a impossibilidade de discernir com rigor onde acabam umas e começa a outra. “Gonçalo foi Santo, e admirável Santo, na primeira idade de menino; santo, e admirável, na segunda de mancebo; santo, e admirável na terceira de varão; santo, e admirável na quarta de velho; e finalmente Santo, e admirável, na quinta, depois de morto” (excerto de sermão do Padre António Vieira no Brasil).
São Gonçalo de Amarante, nasceu por volta de 1190, na freguesia de S. Salvador de Tagilde, no concelho de Vizela, no seio de uma família nobre (os Pereiras). Sob a proteção do arcebispo da Arquidiocese de Braga, Gonçalo cursou as disciplinas eclesiásticas na escola-catedral da Sé arquiepiscopal, vindo a ser ordenado sacerdote e nomeado pároco da freguesia de S. Paio (ou S. Pelágio) de Riba-Vizela. Parte em peregrinação primeiro a Roma donde passou a Jerusalém, onde se demorou 14 anos, deixando os paroquianos ao cuidado dum sobrinho sacerdote. De regresso a Portugal, é escorraçado pelo mesmo que mediante uma trama teria sido nomeado como pároco da freguesia. Resignado, deixa S. Paio de Riba-Vizela, ingressa na vida conventual da Ordem dos Pregadores, recentemente fundada por S. Domingos, construindo uma pequena ermida que dedicou a Nossa Senhora da Assunção, nas margens do rio Tâmega. no local onde hoje se ergue a Igreja e Convento de São Gonçalo, em Amarante. O processo de beatificação foi promulgado em 16 de setembro de 1561. A devoção ao santo mais popular dos santos portugueses, depois de Santo António de Lisboa, espalhou-se por Portugal e Brasil. Em 1540 João III de Portugal e D. Catarina de Áustria, deliberaram a construção de um novo templo e convento dominicano no local, sob a invocação de Gonçalo de Amarante. As obras iniciaram-se em 1543, tendo-se prolongado até ao século XVIII, com intervenções no século XX.
São Gonçalo, no sec. XIII, inicia a construção de uma travessia entre as duas margens (é durante este período que surge uma imensidade de lendas). A ponte desmoronou-se no século XVIII devido às cheias, tendo sido recuperada posteriormente. A famosa defesa da Ponte de Amarante ocorreu em 1809 e foi um dos momentos mais marcantes das segundas invasões francesas. A heroica defesa da ponte, como ficou conhecido o episódio, aconteceu já após as tropas francesas terem ocupado a Igreja de São Gonçalo, tendo sido impedidas de atravessar o Tâmega. Passaram-se mais de 200 anos, mas as marcas de bala de canhão e mosquete ainda perduram na fachada do edifício.