História

Capela dos Alfaiates
13 Setembro, 2018 / , ,

Discretamente situada no ângulo de duas ruas e com uma arquitetura aparentemente simples, esta capela merece ser visitada.

Embora seja conhecida por Capela dos Alfaiates, uma vez que foi mandada construir pela Irmandade dos Alfaiates, esta pequena igreja é designada como Capela de Nossa Senhora de Agosto, tendo na fachada uma imagem de barro desta santa.

Foi construída em 1554 bem perto da Sé do Porto, mas devido à abertura do Terreiro da Sé, foi retirada do local e em 1953 reedificada no local onde está atualmente. É Monumento Nacional desde 1927.

Nossa Senhora de Agosto é padroeira dos Alfaiates, daí a veneração que levou a que decidissem construir este pequeno monumento cuja arquitetura faz a transição do Gótico tardio para o Maneirismo de inspiração flamenga.

No interior, para além de imagem em calcário da santa e de S. Bom Homem (séc. XVII), destaca-se o retábulo de Nossa Senhora de Agosto, feito em talha dourada do séc. XVII e em estilo maneirista. É composto por um conjunto de oito tábuas com episódios da vida da Virgem e do Menino Jesus: Anunciação, Adoração dos Pastores, Adoração dos Reis Magos, Assunção da Virgem e o Menino entre os Doutores. O remate é feito pela Coroação da Virgem, ladeada pela Visitação e pela Fuga para o Egipto. As pinturas terão sido feitas entre 1590 e 1600.

Rua do Sol / Rua S. Luís, Porto

Horário: Seg-Sex 15:00-17:00

GPS: 41.143277204857, -8.6074742674828

 

Forte de São João Baptista
3 Setembro, 2018 / , , ,

Também conhecida por Castelo de São João da Foz, esta fortaleza foi construída para proteger a cidade dos ataques de piratas e navios de países inimigos.

Erguido na margem direita da Barra do Douro, a génese deste forte foi a residência do bispo da Diocese de Viseu, elaborada segundo o projeto de um arquiteto italiano. Considerada a primeira manifestação de arquitetura renascentista no norte de Portugal, esta casa, bem como os edifícios adjacentes – como a Igreja de São João Baptista e capela-farol de São Miguel-o-Anjo, foi rodeada de muralhas no reinado de D. Sebastião (1567). A localização estratégica, fundamental para a defesa da cidade e da região, justificaria várias intervenções feitas ao longo dos anos, procurando evitar ataques de piratas e de navios provenientes das nações com quem Portugal esteve em guerra ao longo da sua História.

Quando a independência portuguesa foi restaurada após 60 anos de domínio espanhol (1580-1640), D. João I quis inteirar-se do estado das fortalezas nacionais e da necessidade de construir mais fortes. O engenheiro francês Charles Lassart foi enviado ao Porto para definir as obras necessárias no forte; foi decidido demolir a igreja e a residência, tornando a fortaleza mais segura. Depois de concluídas as obras, foi reforçada a presença de tropas no local. No século XVIII a fortaleza era descrita como tendo quatro baluartes, um revelim, 18 peças de artilharia, mas no final deste século concluiu-se que seria necessário reforçar a segurança, nomeadamente com a finalização do fosso e com a construção de duas baterias. Em 1798 foi também projetado um portal em estilo neoclássico, com ponte levadiça, que substituiu a primitiva porta de armas.

A evolução do armamento e da capacidade de defesa fez com que este forte fosse perdendo importância durante o século XIX. Em meados do século XX estava ao abandono, mas acabou por ser considerado Monumento de Interesse Público e nos anos 80 e 90 foi alvo de trabalhos de limpeza e consolidação.

Curiosidades:

No século XVI as obras foram pagas com a verba angariada pelo imposto sobre o sal.

Durante a Guerra Peninsular (1808-1814), a 6 de junho de 1808, o Sargento-mor Raimundo José Pinheiro ocupou as instalações do forte. Na madrugada seguinte fez hastear no seu mastro a bandeira portuguesa. Foi o primeiro ato de reação portuguesa contra a ocupação napoleónica.

Durante a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), protegeu, durante o cerco do Porto (1832-1833), o desembarque de mantimentos para as tropas liberais na cidade.

No século XIX serviu como prisão política

A poetisa Florbela Espanca, casada com um dos oficiais, viveu no forte no início dos anos 20

 

Coordenadas GPS: 41.148445879541, -8.6748862266541

Horário: de Segunda a sexta-feira 9:00-17:00

As duas imagens da Senhora da Luz
13 Agosto, 2018 / , ,

Antes do farol de São Miguel, que foi edificado em 1758 na Foz, terá existido no local uma capela dedicada à Senhora da Luz.

Segundo alguns estudos, na época pré-histórica aquele local teria um significado especial, como comprovam marcas feitas nas rochas. A referência à “Senhora da Luz” e à respetiva capela já surge em 1680. Seria uma construção simples, mas de grande importância para pescadores e marinheiros.

Bombardeada durante as guerras liberais, a capela seria destruída, mas do seu recheio foi salvo um altar com a imagem que está hoje na Igreja de São João da Foz do Douro. Esta imagem de Nossa Senhora invoca a luz, tão necessária para quem andava no mar. Enquadrada por talha dourada e adornada com imagens de anjos, a Senhora da Luz ainda hoje é venerada.

Na mesma igreja existe também outra imagem, com 30 cm de altura e feita em marfim, representando Nossa Senhora com Jesus ao colo. Apesar do seu reduzido tamanho, esta imagem, decorada com um manto bordado a ouro e pedras coloridas, destaca-se pela raridade e beleza de alguns detalhes. A imagem destinar-se-ia a ser transportada e beijada pelos fiéis em dias festivos.

Fonte: O Tripeiro 7ª Série, Ano XV número 9 Setembro 1996

Um memorial feito de destroços
13 Agosto, 2018 / ,

 

No cemitério de Agramonte, na zona da Boavista, uma gigantesca arca preenchida com ferros queimados e retorcidos lembra uma das maiores tragédias da cidade.

Na noite de 20 de março de 1888, um violento incêndio destruiu completamente o Teatro Baquet, um edifício com duas entradas (pela Rua de Sá da Bandeira e Rua de Santo António, atual Rua 31 de janeiro). Nessa noite fatídica, a sala estava cheia e no palco representava-se uma ópera cómica. Numa mudança de cenário, um dos panos tocou na chama da iluminação a gás. Devido aos materiais,  à antiguidade do edifício e à inexistência de um plano de segurança, o fogo propagou-se rapidamente e 120 pessoas terão morrido nessa tragédia.

O incêndio levou a que fossem redobrados os cuidados com a segurança em todas as salas de espetáculo da cidade e, para que tal desgraça nunca mais fosse esquecida foi feito um memorial no Cemitério de Agramonte. O mausoléu, que ainda hoje intriga quem desconhece este episódio da história da cidade, foi feito com pedaços de ferro e tem no topo uma grande coroa de martírios, também em ferro.

CORTEJO DO TRAJE DE PAPEL NA FOZ DO DOURO
9 Agosto, 2018 / , , , ,

Os verões na zona mais ocidental do concelho do Porto têm anualmente uma animação cultural muito característica e peculiar – mas, sobretudo, única. De meados de junho a meados de setembro, a União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde recebe as Festas de São Bartolomeu, um conjunto de atividades que anima as ruas e une populações e visitantes.

O Cortejo do Traje de Papel é, reconhecidamente, o momento mais esperado das festividades, com uma história que ultrapassa já a centena e meia de anos e que na última década tem ganho especial relevo na cidade.

 

São meses de trabalho e preparação, com um foco permanente nas raízes, na história e nas estórias da região. A 2ª Invasão Francesa de 1809 e a Libertação da Cidade do Porto é o tema para o Cortejo do Traje de Papel em 2018, que decorrerá no dia 26 de agosto. São metros e metros de papel, cirurgicamente trabalhados por mãos dedicadas que mantêm vivo este momento festivo da cidade.

Só em figurantes, a edição deste ano conta com 350, oriundos de coletividades e associações da União de Freguesias, que se juntam às restantes centenas que visitam a Foz do Douro para viver esta experiência ímpar.

O formato atual tem 75 anos e integra um percurso que procura chegar aos principais centros nevrálgicos da história da Foz do Douro. O desfile de trajes inicia-se pelas 10h30 e passa pela Cantareira, rica pela sua tradição piscatória.

Depois da passagem inevitável pelo carismático Jardim do Passeio Alegre, espaço cúmplice de muitos intelectuais que preenchem a cultura da Foz do Douro e do Porto, o Cortejo prossegue até à Praia do Ourigo, na qual se realizam os Banhos de Mar, um dos momentos mais marcantes das Festas de São Bartolomeu.

Estes banhos estão repletos de tradição e lendas. Também conhecidos como “banhos santos”, estes mergulhos nas águas do Atlântico – sete, como manda a tradição – representam uma forma de agradecer os favores de São Bartolomeu no ano transato e de livrar e expurgar as maleitas ao longo dos próximos doze meses.

Os participantes da edição deste ano provêm do Bloco da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, da Associação de Moradores do Bairro Social da Pasteleira – Previdência, da Associação de Moradores do Bairro Social de Aldoar e do Orfeão da Foz do Douro.

Muitas são as personalidades da cidade e não só que se juntam a esta tradição, mostrando que a cidade é feita de todos e com todos, mesmo na mais popular das suas tradições.

As barbearias tradicionais do Porto
20 Julho, 2018 / , , ,

Estas são nove das barbearias tradicionais na cidade do Porto e todas se situam entre o Hospital Santo António e a Estação de São Bento.

Também tradicional é a decoração destas barbearias, com cadeirões de ferro e instrumentos de latão capazes de aguentar décadas de uso. Os profissionais também acompanham esta longevidade: muitos são senhores de idade avançada com o cabelo descolorado pelo tempo e os dedos hábeis envoltos em rugas.

  • Barbearia Porto: Nasceu em 1946, mas dessa data só restam as cadeiras e uma caixa de engraxador. O resto da decoração vintage foi trazida pelos novos proprietários. Fica a dois passos dos Aliados.
  • Barbearia Garrett: Desde 1979 nas mãos de Acácio Branco, esta barbearia encontra-se a poucos metros da Câmara Municipal do Porto. Com uma decoração à moda antiga, este estabelecimento só tem clientes masculinos.
  • Oficina do Cabelo: Antiga barbearia Tinoco, reabriu com este nome. De 1929 mantém os lavatórios em mármore, cadeiras em ferro, enormes espelhos e chão revestido com mosaicos em leque. É hoje considerada património do Porto.
  • Barbearia Santo António: Não é muito maior do que um corredor, mas traz muita história nas mãos de António Cardoso. São mais de 50 anos de cortes no início da Rua 31 de Janeiro.
  • Barbearia Norton: Nesta barbearia, na zona da Batalha, fala-se de tudo e mantém-se viva a tradição do barbeiro de bairro, com cadeiras de couro, pincel para a barba e navalhas para a barba.
  • Salão Veneza: São quase 90 anos de vida e mais de 70 de barbeiro. Nestas poltronas bordeaux já se sentaram figuras incontornáveis da nossa história.
  • Barbearia Sport: Foi em 1942 que se instalou no Porto esta barbearia que viveu uma era em que se perdia mais tempo a embelezar o bigode do que a cortar o cabelo.
  • Barbearia Invicta: Aventino Silva está nesta barbearia desde os 10 anos e apesar da chegada das lâminas não perdeu clientes.
  • Barbearia Orlando: Já conta com dois espaços no Porto, mas é na Rua Álvaro Castelões que se mantém a tradição, os clientes e as conversas sobre tudo.

Fonte: “Os bigodes à antiga e a arte de os fazer bem feitos” – Prova de Aptidão Artística de Edgar Duarte (Escola Artística Soares dos Reis)

Igreja de Santo Ildefonso
18 Abril, 2018 / , , ,

A Igreja de Santo Ildefonso tem cerca de 11.000 azulejos na frontaria e nos lados das torres sineiras.

Estes azulejos são da autoria de Jorge Colaço, que também criou os azulejos da Estação de São Bento, e representam cenas da vida de Santo Ildefonso e do Evangelho. Foram colocados apenas em 1931, mas a construção da igreja é bastante mais antiga.

A Igreja de Santo Ildefonso começou a ser construída em 1709, tendo a primeira fase (ainda sem as torres sineiras) ficado concluída em 1730. No interior destacam-se oito vitrais e um retábulo em talha barroca e rococó da primeira metade do século XVIII, da autoria de Nicolau Nasoni. Ao visitar esta igreja, situada em plena Baixa do Porto, não deixe de prestar atenção a duas grandes telas de 5,80 x 4,30 metros, suspensas nas paredes laterais, pintadas entre 1785 e 1792.

Na zona do coro existe um órgão de tubos do início do século XIX, que foi restaurado. A igreja apresenta também vestígios de um antigo cemitério, descoberto aquando das obras de recuperação do pavimento realizadas em 1996.

Foi a partir da escadaria desta igreja que em 1891 foram disparados os tiros que acabariam com a revolução que foi a primeira tentativa de implantação da República em Portugal.

Um sabor único com séculos de tradição – O que precisa de saber sobre o Vinho do Porto
18 Abril, 2018 / , , ,

Produzido na Região Demarcada do Douro, é mundialmente famoso e pode ser saboreado nas mais diversas ocasiões.

Os socalcos e o clima do Douro aliam-se à experiência adquirida durante séculos para criar um vinho único no mundo, com um aroma e sabores exclusivos, que apresenta uma grande diversidade de cores – que vão desde o retinto ao branco pálido, passando pelo branco dourado) e doçuras (muito doce, doce, meio-seco ou extra seco).

O tipo de envelhecimento leva a dois tipos diferentes de Vinho do Porto. Os vinhos Ruby mantêm a cor tinta, o aroma frutado e o vigor dos vinhos jovens. Em termos de qualidade, podem ser divididos em Ruby, Reserva, Late Bottled Vintage (LBV) e Vintage. Os vinhos das melhores categorias, principalmente o Vintage, podem ser guardados vários anos, pois envelhecem bem em garrafa.

Os Tawny são obtidos por lotação de vinhos de grau de maturação variável, através do envelhecimento em cascos ou tonéis. As cores podem ser o tinto-alourado, alourado ou alourado-claro e os aromas evocam os frutos secos e a madeira, características que são acentuadas com a idade. As categorias existentes são: Tawny, Tawny Reserva, Tawny com Indicação de Idade (10 anos, 20 anos, 30 anos e 40 anos) e Colheita. Podem ser consumidos pouco depois de engarrafados.

O Porto e os ingleses – Uma amizade de séculos
18 Abril, 2018 / ,

É bem conhecida a influência dos ingleses na cidade por via do Vinho do Porto, mas a relação entre portuenses e britânicos é muito mais antiga.

O primeiro contacto terá acontecido em junho de 1147, quando os cruzados ingleses que se dirigiam à Terra Santa ficaram 11 dias no Porto à espera das forças comandadas pelo conde de Areschot e por Cristiano de Gistell, que se tinham separado da armada devido a um temporal. O primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques, ao saber deste facto, procurou estabelecer um acordo com os seus chefes, convencendo-os a ajudar na conquista de Lisboa aos mouros.

O relacionamento intensificou-se durante a Idade Média, com o estabelecimento de relações comerciais. Panos, vinho, madeira, peles e pescado eram os produtos transacionados entre os dois países.

A 2 de fevereiro de 1367 a Sé do Porto foi palco do casamento entre D. João I e D. Filipa de Lencastre, uma união que teve como contrapartida o apoio dos britânicos na luta com Castela.  Em 1642, dois anos após a restauração da independência de Portugal, o Porto recebe o primeiro cônsul britânico, Nicholas Comerforde.

Nicolau Nasoni -A grande influência arquitetónica portuense
18 Abril, 2018 / ,

Reinou aqui por mais de 30 anos o arquiteto-pintor Nicolau Nasoni como uma espécie de rei das artes, efetivamente sem rivais.

 Chegou em 1725, com a idade de 34 anos (pois nasceu na Toscana em 1691), vindo de Valeta, da Ilha de Malta, onde trabalhara por alguns poucos anos para o grão-mestre português D. António Manuel de Vilhena.

A sua grande obra de Malta, foi a pintura dos corredores do palácio dos grão-mestres em Valeta, nos quais revelou o estilo que iria depois traduzir para o granito do Porto, em obras como a Sé, os Clérigos e a Igreja da Misericórdia. Roque de Távora, irmão do deão do cabido do Porto, terá recomendado Nasoni, por causa da sua espetacular capacidade de trabalhar.

 Nasoni, deu ao Porto aquela grandeza urbana, que nasce da posse de palácios e templos, conventos e casas nobres em grande escala, identificados com um génio artístico de primeira qualidade. E, no caso do grande artista portuense, esta distinção não se limita ao campo da arquitetura. Manifestou-se também na pintura, na escultura, tanto em pedra como na talha, na ourivesaria, no ferro forjado, para citar apenas alguns aspetos do génio do homem extraordinário, que enobreceu plasticamente a cidade do Porto.

 

Artigo retirado da revista “O Tripeiro”, nº7, Julho 1996, VI série, Ano VI